Tempo em Algueirão Mem Martins

quarta-feira, 30 de abril de 2014

[Noticias Magaine] Antonio Cluny - Memórias do 25 Abril

António Cluny, antigo presidente do Sindicato dos Magistrados do Ministério Público e procurador-geral adjunto no Tribunal de Contas, tinha 18 anos e era estudante de Direito quando na madrugada de 25 de Abril, pelas cinco ou seis da manhã, ouviu na rádio que as tropas estavam na rua para derrubar a ditadura. «Vivia no Algueirão, perto de Sintra, e por isso levantava-me muito cedo para ir para as aulas. Quando ouvi a notícia saí logo de casa, sem dizer nada aos meus pais, que dormiam.» 

Na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa vivia-se um ambiente repressivo. «Não tinha par no mundo académico português. Existia uma polícia interna, composta por fuzileiros da pide, que mantinha a ordem e controlava todas as actividades dos estudantes. Uma ideia introduzida por Veiga Simão, ministro da Educação Nacional da altura e depois ministro de um governo socialista, com a conivência da maioria do corpo docente da faculdade, hoje todos insignes democratas. Eles chamavam-lhes vigilantes, nós chamávamo-lhes “Gorilas”. Eram de uma brutalidade enorme.» 


Saiu de casa com destino à Cidade Universitária e como ele muitos colegas. «A ideia era apanharmos os Gorilas, os nossos inimigos de estimação, mas eles não apareceram nesse dia. Eram gorilas, mas não eram estúpidos. Ou pelo menos não tão estúpidos como pensaríamos.»

domingo, 27 de abril de 2014

Entrevista do Grupo 'Diabo na Cruz' na Antena 3

Clica na foto abaixo para ouvires a entrevista dos 'Diabo na Cruz' na Antena 3 na passada semana, onde o grupo fala do espectáculo que vão apresentar 
em Mem Martins no próximo dia 3 de Maio
[clica na foto]
entrevista com Diogo Beja e Joana Marques

sexta-feira, 25 de abril de 2014

quinta-feira, 24 de abril de 2014

Saudades ou só lembranças... do Algueirão

Texto que encontrei no blog 'Salvaterra e eu', e que aqui transcrevo com a autorização do seu autor João Celorico

"A ligar as duas partes, a de Cima com a de Baixo (do Algueirão), havia uma estrada (ainda hoje Estrada do Algueirão), poeirenta, que hoje, ruas com casas dum lado e doutro, é difícil a quem a não conheceu, saber onde passava. Como alternativa, havia um atalho (hoje o que, praticamente, é a rua dos Morés) pelo meio dos campos, onde, entre campos de cultivo, havia uma Fábrica da Telha.


A estrada, propriamente dita, começaria por alturas do que são, hoje, a Escola Primária e a Igreja, descia ligeiramente e depois de uma subida um pouco mais acentuada, curvava, onde hoje é a rua do Mercado, um pouco abaixo donde foi construído o reservatório de abastecimento de água (que ainda não havia, dado que a água que se utilizava era de poços ou fontes) para a esquerda e para baixo, descia de novo até encontrar a entrada inferior do atalho, numa zona baixa onde estava e ainda está uma mercearia e taberna que não recordo o nome (talvez, “A Competidora”) mas que era do “Pérlita”. Neste local, de passagem duma vala, houve certa vez uma grande inundação que impossibilitou a comunicação dos dois lados da povoação. Ainda pior, porque era por aqui o acesso de e para a estação dos caminhos de ferro!


Com o meu novo Mundo situado cá em Baixo, continuei a minha exploração. As casas aqui, eram mais novas e em maior número mas o movimento de pessoas nem por isso. Muitas das casas eram de veraneio (com o consequente abandono durante o resto do ano) e noutras, as pessoas não trabalhavam no Algueirão, saiam de manhã e retornavam já de noite. A proximidade da estação de caminhos de ferro, ajudava a isso.



É, então, que o centro do Mundo passa para o que se chamaria Rua M (ou seria N?) e hoje é a Rua de Santo Estêvão!E, é daqui que eu parto para a descoberta do resto do Mundo. Não me alargava muito, pois normalmente só ia até à linha do comboio.

Para lá da linha, ia à drogaria, à farmácia, ao cinema “Chaby”, acabado de construir e uma ou duas vezes, a uma drogaria, o “Africano”, para comprar lixívia (que os tempos eram de crise e não a havia em qualquer lado), ali para os lados dos Casais de Mem Martins.



Pois bem, saindo da tal rua M (ou N), chegava à estrada e, para baixo lá encontrava, do lado esquerdo os “Correios”, depois, à direita o “Pérlita", mais à frente, à esquerda a “Cabeleireira”, numa vivenda, lá para dentro e, já quase junto à linha, do lado esquerdo uma taberna, a “Cova Funda”, e na esquina defronte, uma mercearia. 

Do lado direito, entre outros havia uma capelista e outra mercearia, e mais acima o talho do Alfredo Conde, cavaleiro tauromáquico, pai do também cavaleiro Manuel Conde. Este, tinha casado com a filha do Crispim, do Algueirão de Cima; e dizia-se que a família Conde, seriam os mais ricos de Maçãs de D. Maria! Dinheiro atrai dinheiro!

Ainda junto à linha e no sentido de Sintra, começava a Avenida Capitão Américo dos Santos que, penso ligava à avenida, chamada da “Torrejana”, porque lá no fim ficava uma loja (mercearia) com esse nome. Penso que hoje, essa avenida é a avenida Val do Milho. 

Atravessada a linha, do lado esquerdo, ia-se até à Ribeira de Fanares, onde muitas vezes fui com minha mãe, para lavar roupa. Hoje será mais uma ribeira enterrada, talvez sob a Av. dos Capitães de Abril.

Em frente, além da drogaria do “Poças”, da farmácia “Químia” e duma mercearia, a que eu achava muita graça por dizer que era um Armazém de Víveres, coisa estranha para mim, e que ficava defronte da que foi Av. Chaby Pinheiro (penso eu), havia então nessa tal avenida, que pouco mais era do que um descampado, o Cinema “Chaby”. Foi neste cinema que eu vi o “Fado”, "Não há rapazes maus", “Duelo ao Sol”, “A Loura Incendiária”, “Sangue Ardente”, “Tão perto do meu coração”, e “Tarzan e a Fonte Mágica”, o primeiro filme do Tarzan interpretado pelo Lex Barker.

Não foram muitos os filmes que vi mas eu devorava os cartazes que apareciam na montra do “Pérlita”. 
E, do lado de lá da linha, em Mem Martins, para mim, era tudo.
Do lado de cá, defronte da minha rua havia o que hoje é a rua do Forno e que era um caminho, até ao atalho. O forno era um forno de cal, local onde era frequente haver acampamento cigano, o que me obrigava, ao passar por ali, no meu caminho para a escola, a fazer uma espécie de “sprint” relâmpago, de modo a ver-me livre de sensações e medos estranhos demais para um miúdo.

Em sentido inverso, a zona de vivendas ali à volta, incluía uma padaria e um terreno mesmo a pedir que se fizessem ali uns “joguinhos” de futebol, que eu aproveitava na companhia de alguns veraneantes. Depois havia um regato, seco no Verão, uma zona de mato, e chegava à “Torrejana”, zona de mais algumas vivendas que se iam distribuindo na avenida, até à linha do comboio. Pouco mais havia, naquele mato imenso que ficava ali defronte de Ouressa mas, mesmo assim, lá no meio, o Colégio D. Afonso V, isolado, parecia não se importar muito com isso. O certo é que anos mais tarde, mudou-se para os lados de Fanares.

Por aqui, nada mais havia. De referir que para lá do atalho, na direcção das Mercês, havia o “Pinhal da Formiga”, onde corria uma ribeira que julgo seria a Ribeira de Fanares e onde apanhava lírio nas suas margens. Hoje, são ruas e prédios!

Assisti, à construção do edifício da Estação de Caminho de Ferro, pois até ali, o Algueirão, era apenas um apeadeiro; à viagem inaugural das primeiras carruagens, suíças, viagem feita pelo senhor Presidente do Conselho, dr. Oliveira Salazar e à viagem da rainha D. Amélia, a Sintra.

E, dos 3 aos 9 anos, foi este o meu Mundo, conhecido a palmo e que hoje me recuso a reconhecer mas que não esqueço! 
A freguesia mais populosa do país, parece nunca ter tido passado. E futuro, terá?